"Hoje pela primeira vez não me apetece.
Não me apetece estar no comboio, fazer a viagem, voltar para casa, voltar para onde tu não estás.
Queria ir com a certeza de que estarias à minha espera, de que teria os teus olhos colados no comboio, ansioso que eu saísse para me abraçar.
Hoje não vai acontecer nada disso.
Isso já não acontece há muito tempo, alguma vez terá acontecido?
Olho para as malas, estão pesadas, mas não tanto quanto os meus olhos cheios de água, ansiosos por verter todas as lágrimas aqui acumuladas.
Bastava ter dinheiro na carteira e hoje não voltava. Apanhava outro e outro comboio, com diferentes destinos, longe daqui, longe de ti.
Quero esquecer por momentos que existes, que existo por ti. É terrível pensarmos que existimos porque um outro alguém existe. Mas é isso. Ás vezes só existo por ti.
Hoje, sou só eu e as minhas malas, e claro, todo o vazio que deixas em mim. Todos os passageiros devem perceber que me falta um pedaço.
Só queria que lá estivesses à espera como nos filmes, que fosse realmente um conto de fadas, e que me fizesses feliz para sempre.
Queria que tivesses tanta certeza quanto eu tenho.
Mas eu sei que a nossa vida não é um filme, muito menos um conto de fadas, mas talvez, com muito esforço, consigamos ser felizes para sempre."
10-03-2016